segunda-feira, 30 de maio de 2016

O Estado de São Paulo - Espaço Aberto

 Fernando Gabeira

Quando ouço a palavra Cultura, saco minha tesoura. É razoável que se pense assim num momento de crise aguda. Não entendo o fim do Ministério da Cultura.
O governo de Michel Temer nasceu de uma emergência, teve pouco tempo para se estruturar, sua tática e sua prioridade é correta : Reconstrução econômica e conquistar a maioria no congresso para aprovar as medidas saneadoras. Compreendo que o governo Temer ainda não tenha uma politica Cultural. Esta é a primeira crítica.
Secretaria ou Ministério, qual o melhor?
Depende, quando saiu da secretaria do MEC o Ministério da Cultura foi rebaixado. Perdeu a Roquete Pinto e a TVE. Gilberto Gil tentou recuperar a TV quando Lula a " recriou" e perdeu uma corrente que dirigia a comunicação.
Na França os dois são Unidos:
Ministério da Cultura e Educação.
Superficialmente o fim do Ministério foi saudado porque muitos viam nele apenas um espaço para cooptar artistas por meio de isenções fiscais.
O BNDES também cooptou empresários com juros subsidiados, vamos fechar o BNDES?
Uma coisa é economia, outra é Cultura.
Existem menções a Cultura e o planejamento econômico no plano Fernando Collor de Melo. Seu programa elogiava grupos culturais com sensibilidade empresarial. E no mesmo parágrafo também critica os que se apoiam nas costas do Estado para esconder sua mediocridade.
No governo Fernando Henrique Cardoso, José Álvaro levava o tema adiante com o slogan " Cultura é um bom negócio". Hoje acredito que não apenas a tecnologia e a ciência transferem valores. A Cultura sempre também fez. Trabalho com isso no cotidiano, documentando experiências que chamo de economia criativa.
O patrimônio artístico e histórico do Brasil vive momentos difíceis e ameaçadores. Trabalho também visitando de estátuas a obras de Burle Marx. Intelectuais como Mário de Andrade percorreram o Brasil colhendo expressões culturais, outros lutaram para que monumentos fossem preservados.
Acabar com o Ministério da Cultura (MinC) e anexa lo de novo a Educação nas mãos de um deputado não familiarizado com o problema é uma péssima escolha.
Existem situações em que o Estado financia um grupo artístico, porém grupos de reconhecido prestígio Cultural.
Se o problema for apenas a verba é preciso lembrar que se pode ter uma estrutura mais ágil com iniciativas privadas.
Os novos dirigentes devem perceber que dois importantes Ministerios foram fechados e deram o que falar, o da Cultura e Ciência. Espero que não confundam Cultura com um grupo de artistas. A indústria Cultural envolve milhares de trabalhadores.
José Serra assumiu a política externa. A Cultura tem um papel econômico simbólico em nossa relação com o mundo. Não conheço sua opinião, mas seria interessante saber como, para ele, Cultura e política externa se entrelaçam, que instrumento é o mais adequado para o governo.
Por favor, saquem suas tesouras,.mas também algumas ideias.

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