Edição especial 2008 / Fred Rossi |
Pedro Sirotsky
Carlos Lyra, Fred Rossi, Roberto
Menescal, Oswaldo Mendes, Luiz Carlos Miéle. Outono de 2007 Foto: Nelson Faria.
50
Anos de Bossa Nova: O
presidente Juscelino Kubitschek assiste desfile ao lado do vice João Goulart,
do Ministro do Exército Henrique Lott e da primeira dama D. Sara 7 de Setembro,
1957 Brasília Foto: Antonio Nery
Bossa Nova não é um movimento, como se
costuma dizer. É diferente do Tropicalismo, esse sim, um movimento que até
manifesto tinha. Movimento é uma coisa premeditada enquanto que a Bossa Nova
seria, melhor pensando, um surto cultural e inteiramente espontâneo surgido nos
anos 50, durante uma época de grande desenvolvimento econômico e no governo de
Juscelino Kubitschek – o Presidente
Bossa Nova. Esta época desenvolvimentista foi responsável por outros
surtos culturais marcantes: entre os artísticos, pode se citar cinema novo,
teatro de vanguarda (Arena,TBC,Oficina e Teatro dos 7), poesia concreta,
literatura e artes plásticas. Entre os esportivos, campeonatos mundiais de
futebol (1958 e 1962), basquete, Box, tênis, salto tríplice, tenis de mesa,
pesca submarina etc... É digno de nota o titulo de Miss Universo concedido a
gaucha Yeda Maria Vargas. Entre os industriais, o parque industrial de São
Paulo, os automóveis JK, culminando com a construção de Brasília que revela,
para o mundo, a arquitetura de Niemeyer, Lucio Costa e Burle-Marx.
Bossa Nova também não sofre,
unicamente, influencia do jazz. Nunca conversa com Tom Jobim, chegamos a
conclusão de que tínhamos exatamente as mesmas influencias do jazz West coast,
dos grandes compositores populares norte americanos, do bolero mexicano e da
canção francesa.
Elis
& Tom 1974 | Nem Sinatra Mereceu uma Dessas!
Tom Jobim jamais confessou, mas deve
ter se arrependido e recusar aquela cantora um pouco estrábica e “muito
caipira” para o seu gosto, quando dirigiu a gravação de Pobre menina rica de
Carlos Lyra e Vinicius de Moraes. Perdeu a chance de dar a Bossa Nova, que mal
havia nascido, o luxo de ter o nome de Elis Regina registrado oficialmente na
sua história. Se houve ou não arrependimento, Tom corrigiu a tempo o seu erro
de avaliação, ao se trancar por quase três semanas com Elis, de 22 de fevereiro
a 9 de março de 1974, no estúdio da MGM em Los Angeles, e gravar um dos
melhores e mais importantes discos da musica brasileira, com arranjos de César
Camargo Mariano. Elis & Tom também redime a historia da Bossa Nova da
ausência da cantora que ainda hoje, três décadas depois de sua morte, se mantém
como a melhor do País. O disco foi o presente que a gravadora Phonogran
ofereceu a cantora para comemorar seus dez anos de carreira.
Ela
Canta cada dia Melhor
| 17/03/1945 – 19/01/1982
Em Porto Alegre, onde nasceu, já se
ouvia falar dela desde que aos sete anos estreou no Clube do Guri, da radio
Farroupilha, e depois assinou seu primeiro contato profissional para cantar no
programa Maurício Sobrinho, na Radio Gaucha. Mas ninguém lhe deu atenção
quando, em 1962, acompanhada pelo pai Romeu desembarcou no Beco das Garrafas,
em Copacabana.
A gravadora Continental não sabia do
brilhante que tinha nas mãos e queria transforma-la num arremedo da adolescente
italiana Rita Pavoni, que vendia disco como água.
Elis contou, em entrevista ao
suplemento Folhetim, da Folha de S. Paulo, em 1979, que sua mãe Ercília lia um
romance de amor em que o casal se chamava Mister e Miss Elis quando ela nasce:
E essa Miss Elis devia ser assim aquela mulher maravilhosa, que minha mãe
gostaria de ter sido. Ela ficou faascinada com o nome. Aí meu pai foi me
registrar: as tais horas, do dia 17 de março de 1945, nasceu uma criança do
sexo feminino,que terá como nome... ele falou Elis.
Tamba
Trio
Quando um dos grupos mais longevos da
Bossa Nova, o Tamba Trio, estreou na
boate Bottle’s no Beco das Garrafas, em 19 de março de 1962, o pianista Luiz
Eça já era um nome entre os músicos, com formação erudita na Austria e um
respeitável currículo na noite carioca, onde começou na boate Plaza, entrando
no lugar de Johnny Alf em um trio integrado por Ed Lincoln e Paulo Ney, que
seriam substituídos por João Donato e Milton Banana, que depois formou seu
próprio trio. Numa pausa das atividades do Tamba, entre 1977 e 1981, participou
dos shows do grupo MPB-4. A indentidade indígena do grupo – tamba é nome de uma
árvore – vem do instrumento de percussão com três tambores.
Teatro
Paramount 8 – 9 – 10 de Abril
No segundo semestre de 1964, os shows
no Teatro Paramount deram a certeza de que havia em São Paulo um publico
disposto a acolher a geração inquieta de músicos e compositores que já não
cabia nos pequenos palcos da zona sul do Rio de Janeiro, onde a Bossa Nova se
abrigava. O fino da bossa no dia 25 de maio de 1964, produzido pelo Centro
acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da USP, estavam Alaíde Costa,
Zimbo Trio, Paulinho Nogueira, Ana Lúcia, Rosinha de Valença, Jorge Bem, Oscar
Castro Neves, Wanda Sá e Nara Leão.
Noel
Rosa | A modernidade de Vila Isabel
Não se vive impunemente menos de 27
anos, criando quase 300 musicas em menos de dez anos de carreira profissional.
Não se o personagem for Noel de Medeiros Rosa. Pensar nas influencias que
desaguaram na Bossa Nova sem citar a sua obra é impossível.
Claudete
Soares | No Meio do Tiroteio | Maio de 1960
Pra quem foi batizada por Luiz Gonzaga
de “Princesinha do Baião”, receber o convite de Sylvinha Telles para
substitui-la numa temporada na boate Plaza, em Copacabana, ao lado de Baden
Powell, João Donato, Luiz Eça e Milton Banana já não era pouca coisa. Ronaldo
Boscoli a incluiu em A noite do amor, do sorriso e da flor, em maio de 1960, na
Faculdade de Arquitetura do Rio de Janeiro.
Maysa
| Entre a Bossa e a Fossa
“C est la reine de la Bossa Nova”,
reverenciou o jornal France Soir ao noticiar a estreia de Maysa no Olympia de
Paris, em 1963. Os franceses certamente não estavam interessados na discussão
que no Brasil até hoje põe em dúvida se a cantora poderia ser classificada como
bossa nova. Para Jacques Brel e Sacha Distel, ídolos da canção francesa e
amigos de Maysa, ela era a legitima representante daquela nova maneira de
cantar o samba que encantava o mundo.
Antes de casar com André, da
aristocracia família Matarazzo, a paulistana Maysa Figueira Monjardim ainda
adolescente cantava e compunha ao piano (fez o samba Adeus quanto tinha 12 anos).
Ricardo Cravo Albin, em seu dicionário
da Musica Popular Brasileira disponível na internet, considera Maysa a primeira
divulgadora internacional da Bossa Nova, que cantou primeiro na Argentina e
Uruguai e, depois nos palcos de Blue Angel em Nova York, do Cassino Estoril em
Lisboa e no Olympia de Paris.
João
Gilberto | Da Beira do Rio para o Mundo | 10.6.1931
Filho de Joviniano Domingos de
Oliveira e Martinha do Prado, João Gilberto Pereira de Oliveira viveu em
Juazeiro na Bahia, divisa com Pernambuco, até os 10 anos. Gostava de ficar
horas e horas a beira do rio, ouvindo o coaxar dos sapos e vendo a luz, a
claridade, os reflexos do sol na água. Tentava compreender aquilo tudo.
Consegui sentir – compreender não compreendi. Mas aquilo ficou em mim e ainda hoje
carrego comigo um bocado de todo aquele alumbramento, disse a Revista do Rádio em 1960. Aos 11 anos foi para um
colégio interno em Aracaju, tocou na banda, voltou a Juazeiro em 1946 e, com
violão que ganhou de presente do pai, formou um conjunto vocal Enamorados do
Ritmo, que durou pouco. No ano seguinte estava em Salvador, de novo num colégio
interno que abandonou para trabalhar na Rádio Sociedade da Bahia.
Elza
Soares | Uma Estranha no Ninho
Quando a Bossa Nova nasceu em 1958,
Elza Soares estava ganhando a vida, cantando em Buenos Aires, filha do operário
Avelino Gomes e da lavadeira Rosária Maria da Conceição, Elza teve seu primeiro
filho aos 12 anos. Nascida na favela de Vila Bonita, uma das primeiras do Rio
de Janeiro, a vida não lhe veio de bandeja. Precisou correr atrás. Aos 1 anos
decidiu defender algum no programa Calouros em desfile, que Ary Barroso
apresentava na Rádio Tupi.
Quando subiu ao palco, com uma saia
cheia de alfinetes e duas marias-chiquinhas no cabelo, o auditório caiu na
gargalhada. Ary ficou só olhando aquela menina magra e sem graça.
O que você veio fazer aqui?
- Ué eu vim cantar.
E quem disse que você canta?
- Eu.
Mas, afinal, de que planeta você veio?
- Do planeta fome.
Aos 20 anos e mãe de cinco filhos, era
empacotadora numa fabrica de sabão, quando conheceu Mercedes Batista, que a
levou para o seu elenco de bailarinas e em cuja Companhia viajou para a
Argentina em 1958. Ao voltar ao Rio no ano seguinte conseguiu contrato para
cantar numa casa de Copacabana, o Texas Bar, onde conheceu Sylvinha Telles e
Aloysio de Oliveira.
Garoto
| O violão de gente humilde | 28.6.1915 – 3.5.1955
Paulinho da Viola esta entre alguns
que colocam o violonista Garoto, nascido em São Paulo, como um dos precusores
da Bossa Nova: “Eu me incluo nesse alguns”, disse Paulinho em entrevista a
Fabiano Rampazzo de O Estado de S. Paulo em fevereiro de 2007. Era um exímio
instrumentista a até hoje falta espaço para esse tipo de música. Mas não acho
que Garoto seria mais conhecido se fosse carioca, não.
Teresa
da Praia | Ministros sem Pasta | Julho de 1954
Se nos auditórios de rádio a disputa
era entre Marlene e Emilinha Borba, num circulo pequeno e menos barulhento a
plateia formada de músicos e cantores se dividia entre Dick Farney e Lúcio
Alves. A gravação e o sucesso de Teresa da praia serviu para reunir “dois
monstros sagrados” e consolidar a sua influencia. Dick Farney e Lúcio Alves,
diz Ruy Castro, “tornaram clássico quase tudo que gravaram. Inspiraram
seguidores sofisticados, abriram o caminho para a Bossa Nova, participaram dela
como ministros sem pasta e, juntamente com ela, foram atropelados pelo
processo. Na passagem dos anos 60 para 70, os dois viram seu mercado encolher
dramaticamente. Mas nunca se
prostituiram, nunca fizeram concessões a estilos em que não acreditaram. E
pagaram por isto: morreram tristes, abandonados pelas gravadoras, afastados do
público – Dick, em São Paulo, em 1987, aos 66 anos, Lucio, no Rio, em 1993,
também aos 66 anos.
Caymmi
1964
Das suas muitas contribuições a Bossa
Nova, uma tem a ver com a colocação no mercado dos novos artistas que estavam
surgindo. Com prestigio na Odeon, Dorival convenceu o presidente da gravadora a
trazer de volta para o Brasil em 1956 o Aloysio de Oliveira (1914 – 1995),
cantor, compositor e ex-integrante do bando da lua, que foi para os Estados
Unidos com Carmen Miranda nos idos de 1940 e por lá ficou.
João
Donato | A Bossa Instrumental | 18.8.1934
João Donato de Oliveira Neto, antes de
aprender acordeão e piano, tirava musica de pequenas flautas de bambu e panelas. Tinha 11 anos quando se mudou de Rio
Branco, no Acre, para o Rio de Janeiro com a família e logo começou a tocar em
festas escolares.
Em 2007 lançou dois CDs, “O piano de
João Donato” e uma tarde com Bud Shank e Joao Donato com o saxofonista que
atuou com o pianista Stan Kenton, seu ídolo.
O
Fino da Bossa | A geração Paramount | 1964
Não por acaso Elis Regina estreou em
São Paulo no teatro Paramount, no show boa bossa, no dia 31 de Agosto de 1964,
apresentado pelo radialista Humberto Marçal, que ao lado de Walter Silva, foi
um dos que abriram espaço para a Bossa Nova nas emissoras paulistas. Com
produção de Solano Ribeiro, Arley Pereira e Teco, e organizado pelas moças da colônia sírio libanesa, o
espetáculo beneficiente ajudou a firmar o Paramount como o templo não só da
Bossa Nova, mas de toda a renovação musical que ela estimulou. Naquela noite
Elis acabou com o baile, segundo Walter Silva, o Pica Pau apelido por conta do
programa que fazia na Rádio Bandeirantes, O Pick-up do Pica Pau. Pick Up, é bom
explicar, era sinônimo de vitrola, de toca-disco.
Boa bossa deu tão certo que Walter foi
convidado pelos alunos da Escola
Paulista de Medicina a produzir um outro show, cuja renda, depois das
contas pagas, ajudaria na festa de formatura.
CPC
DA UNE | A Classe Média Vai ao Povo | Setembro de 1961
Musica de classe média, a Bossa Nova
enveredou pela política, até chegar as canções de protesto, conduzida por
Carlinhos Lyra. E o Sérgio Ricardo, que não se reconhecia bossa nova, ele diz,
referindo-se ao cantor, compositor e cineastam paulista do interior (Marília),
que deixou as sofisticadas harmonias de Pernas e Folha de papel, e que falava
de amor até nas canções de cunho social como A fábrica e Enquanto a tristeza
não vem, para anunciar que o sertão vai virar mar no filme de Glauber Rocha
Deus e o Diabo na terra do Sol.
Leny
e a Influencia do Jazz | New York Times | Outubro de 1983
Aos quarenta anos, ela foi apresentada
pela boate Blue Note, em outubro de 1983, como a Brazil’s n. 1 jazz Singer e o
critico do jornal New York Times comparou a sua interpretação a agilidade
jazzística de Ella Fitzgerald.
Roberto
Menescal | Entre o Mar e a Bossa | 25.10.1937
De poucos se pode dizer que a Bossa
Nova se confunde com a própria vida. Entre eles o mais notáveis é o capixaba
Roberto Batalha Menescal, que garoto chegou ao Rio de Janeiro, adotou e foi
adotado pela cidade, aos 17 anos já mandava ver seu violão como profissional,
acompanhando a cantora Sylvinha Telles em shows pelo Brasil, Uruguai e
Argentina.
“Eu tomei contato com a musica
brasileira mesmo através do Patricio, ele que me mostrou as coisas bonitas. Eu
era roqueiro”. Depois, aprendeu teoria cokm Guerra Peixe e Moacyr Santos, por
recomendação da cantora Sylvinha Telles, enturmou-se com Carlos Lyra e juntos
criaram uma academia de violão em Copacabana. Estava lá fazendo a Bossa Nova
nascer e a embalou com O barquinho, em
parceria com Ronaldo Boscoli, com quem dividia a mesma paixão pelo mar, tendo o
mergulho e a pesca como seus esportes favoritos. Foi num fim de semana no mar,
em Angra dos Reis, que eles fizeram
O barquinho.
Ronaldo
Bôscoli | Uma vocação de agitador | 27.10.1929 – 18.11.1994
Diante de Ronaldo Bôscoli a única
atitude que não cabia era a indiferença. Nara Leão o expulsou da sua vida ao
saber que ele, com quem estava de casamento marcado, aproveitou uma viagem a
Buenos Aires para se envolver com Maysa. O parceiro Carlinhos Lyra rompeu com
ele por antagonismo ideológico quando a Bossa Nova se dividiu entre esquerda e
direita. O casamento com Elis Regina – ele com 38 anos, ela com 23 – durou
cinco tumultuados anos. Enfim, Ronaldo Fernando Esquerdo Boscoli podia não ser
uma flor de pessoa, mas o sobrinho-bisneto de Chiquinha Gonzaga esteve no olho
do furacão que transformou a musica brasileira nos anos de 1950. Amigo e
cunhado de Vinicius de Moraes (que se casou com a sua irmã Lila, apesar dos
seus protestos iniciais), teria sido ele o primeiro a sugerir ao poeta o nome
de Tom Jobim para fazer as musicas de Orfeu
da Conceição, além de mexer no vocabulário da peça para adequa-lo a uma
linguagem corrente, com gírias e expressões mais contemporâneas.
Cornegie
Hall | E o Barco Não afundou | 21.11.1962
Para os críticos adversários, como o
historiador José Ramos Tinhorão, o Bossa Nova at Carnegie Hall, na noite
chuvosa de 21 de Novembro de 1962, foi a prova definitiva da submissão daqueles
artistas a influencia do jazz. Um dos poucos que se contrapôs ao, que seja,
movimento desde o começo, Tinhorão nem precisou viajar a Nova York, para
escrever na revista O Cruzeiro que a “Bossa Nova desafinou nos EUA”.
Miúcha
| Da Bossa Velha a Nova | 30.11.1937
No ambiente musical de casa do
historiador Sérgio Buarque de Hollanda e Maria Amélia, a filha Helísa Maria, a
primeira dos sete filhos do casal, era quem arranhava o violão de codinome
Vinicius, homenagem ao poeta, amigo da família. “Boa parte da adolescência, ela
passou tentando imitar o repertorio e os trinados de Edith Piaf, querendo
impressionar a mãe, que adorava a cantora. Miúcha tocava e cantava bossa-velha,
lembra o irmão Chico que só se interessou pelo violão quando apareceu um tal
João Gilberto.
Alaíde
Costa | Um insuperável fio de voz | 8.12.1935
Foi João Gilberto quem primeiro
percebeu a modernidade da voz elegante, suave e afiadíssima da carioca Alaide
Costa Silveira Mondin Gomide e a colocou em contato com Carlinhos Lyra, Roberto
Menescal, Ronaldo Boscoli e todo o pessoal da Bossa Nova, em 1959. Timidez por
timidez,a dela certamente era maior que a do João. E ela coemçou a frequentar
as reuniões musicais no apartamento de Copacabana. Naquele ano, Alaíde e
Sylvinha Telles foram as únicas cantoras profissionais chamadas para o 1º
Festival de Samba-Session, que aconteceu em setembro na PUC – Pontificia
Universidade Católica do Rio, e organizado pelo diretório acadêmico presidido
por Cacá Diegues, que depois se casaria com Nara Leão.
Opinião
| Esquerda Volver | 10.12.1964
Em 1964, com os militares no poder, o
Brasil não era mais tão risonho e franco como nos tempos da euforia
desenvolvimentista da segunda metade dos anos de 1950. E os rapazes da Bossa
Nova já não se contentavam em cantar “ó
que linda namorada você poderia ser”. Eles se politizaram, somaram-se aos
estudantes nas ruas e na UNE – União Nacional dos Estudantes, cantando “este é
um país subdesenvolvido” (Carlos Lyra e Chico de Assis). A síntese desse
engajamento político do pessoal da música, na trilha da turma do teatro,
estreou em dezembro de 1964 no Teatro Arena.
Dulce
Bené Nunes | Os anfitriões da Bossa Nova | Dezembro de 1959
Boate típica do Rio de Janeiro nos
anos de 1950. Muita fumaça, ruído confuso de vozes. Câmara fecha sobre uma
mesa. Um dos convivas se vira para is demais e, dedo nos lábios, os repreende:
“Pssiiu! Bené Nunes!” Silencio. Camara corta para o palco onde Bené Nunes ataca
ao piano um sucesso da época, Jalousie. A cena de um dos vários filmes de que
participou diz bem do sucesso do pianista-galã e compositor carioca Benedito da Penha Nunes (1920-1997),
autodidata, virtuose e, segundo o amigo Miéle, bom de briga – quando entrava em
uma, era difícil tira-lo, mesmo que estivesse levando a maior surra, como
quando enfrentou, sem saber, um alemão campeão de luta romana. O alemão só
empurrava, não queria bater no Bené, porque acabaria com ele. Afinal, era um
profissional. Bené só aceitou parar quando o adversário disse para todo mundo
ouvir que desistia de enfrenta-lo. Para efeitos históricos oficiais, porém,
Bené era um cavalheiro, um gentleman que se tornou protegido de presidente
Juscelino Kubitschek, de quem ganhou um emprego de auditor fiscal e a
preferência para tocar em festas e eventos no Palácio do Catete.
Em 1956, quando Bené se casou com
Dulce, o apartamento do casal na Gávea se transformou em ponto de encontro da
Bossa Nova e cenário, em dezembro de 1959, das fotos reunindo todo o elenco
principal do movimento, com participação especial de Ary Barroso, para uma
grande reportagem pautada pela revista O Cruzeiro, e que saiu na edição de
fevereiro de 1960.
A
Hebraica | Batismo | 1957
Quem batizou aquele grupo de rapazes
de os Bossa Nova? Quem souber do seu paradeiro, favor informar. O fato é que a
pessoa que deu nome ao que faziam na musica aqueles rapazes sumiu no tempo. Nem
seu nome ninguém sabe. De vez em quando, Carlos Lyra, o mais obstinado investigador do paradeiro desse
personagem misterioso, recebe uma pista e vai atrás. Ele contesta até mesmo a
versão publicada por Ruy Castro de que se trataria do jornalista Moisés Fuks,
que na época trabalhava no jornal Ultima Hora: “O criador do nome Bossa Nova
era diretor cultural da Hebraica, era um judeu baixinho, lourinho, com cabelo
cortado a escovinha. O Moisés é grande e o conheço bem”, diz Carlinhos que
ouviu do próprio Moisés a negativa de ter qualquer participação no batismo da
Bossa Nova.
Tudo aconteceu em 1957, quando esse
personagem misterioso, ligado ao Grupo
Universitário Hebraico, resolveu promover uma noite de música na Sociedade
hebraica que, na época ficava no Flamengo e só depois mudou para a sede em
Laranjeiras.