segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Entrevista com o ex presidente Fernando Henrique Cardoso


DEPOR UM PRESIDENTE ELEITO É UMA ARMA QUE A CONSTITUIÇÃO OFERECE AO CIDADÃO NAS DEMOCRACIAS. MAS ACIONÁ LA NUNCA É SIMPLES E AS CONSEQUENCIAS SÃO IMPREVISIVEIS

Por André Petry

Aos 84 anos, o ex presidente Fernando Henrique Cardoso ainda é a voz mais lúcida do PSDB e da oposição. Na convenção tucana, falou da crise atual e disse que seu partido "não pode fugir da responsabilidade de dentro da lei. Mais que qualquer outro líder em atividade, Fernando Henrique Cardoso, que enfrentou a onda do "Fora FHC", sempre tratou o Impeachment com a distancia respeitosa com que se trata uma bomba atômica. Recentemente, ao lembrar sua contrariedade a deposição de Lula no auge do mensalão escreveu:  Derrubar um presidente eleito pode fazer mal para a formação da cultura democrática. 

O Brasil com três décadas de liberdade, está formando sua cultura democrática. O Impeachment de Dilma não é uma saída simples. No entanto há políticos tratando do assunto com uma leveza incompatível com a sua gravidade. 

O Solidariedade, legenda de oposição, chegou ao ridículo de recolher assinaturas para pedir a abertura de impeachment contra Dilma apresentando uma justificativa que não fazia nem sequer menção à expressão "crime de responsabilidade". 
Podem se ler na imprensa frias analises táticas sobre o impeachment: Se for curto, beneficiará Aécio Neves, se for mais demorado, bom para Geraldo Alckmin, mas, se for adotado o regime parlamentarista para tirar Dilma, melhor mesmo para José Serra. Se novas eleições forem convocadas logo depois da deposição de Dilma, não será bom para Lula. 

Em 1992, Fernando Collor caiu porque se comprovou um crime que corroeu seu apoio politico que resultou no impeachment. Agora, a oposição bate em todas as portas em busca de um álibe jurídico. Collor foi alvo de um raro e bem sucedido processo. Talvez venha ser o mesmo caso de Dilma. Mas o que haveria acontecido no Brasil na eventualidade de que Collor tivesse terminado seu mandato?!

Prever o futuro do pretérito é tão arriscado quanto prever o futuro. Mas não existe nenhuma evidencia de que a permanência de Collor ate o fim do mandato teria jogado o pais em um turbilhão de caos. 

Logo depois da derrota no ano passado, os tucanos buscavam um meio legal para depor a presidente. Pediram ao STF auditoria no sistema eleitoral por suspeita de fraude. O impeachment que se pede nas ruas é até aqui, expressão de mal humor e legítima decepção. Não é golpe nem dos tucanos, nem dos manifestantes. A própria Dilma passou o recibo de sua má situação na entrevista à Folha de S. Paulo. Mas suspeitas e impopularidade não são razões para a anulação de um mandato presidencial. 

Fonte: Revista Veja 

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