segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Anotações com Arte | Chico Buarque



Entre 2005/2006 a Journal divulgou a primeira edição do livro Agenda Anotações com Arte – Chico Buarque (Francisco Buarque de Hollanda), realização Fred Rossi Eventos e Produções Ltda CNPJ: 52.044.278/0001-64.
Partes do conteúdo: Garrincha no show da preliminar
Garrincha voltará a jogar no Maracanã hoje, atuando na ponta direita do time de veteranos, que incluem alguns que jogaram na Seleção Brasileira. Vai enfrentar uma equipe de artistas, na preliminar de Flamengo e Atlético. Na equipe dos artistas,  a grande atração será a presença de Chico Buarque de Hollanda no ataque, Paulinho da viola no meio de campo e Jair Rodrigues de quarto-zagueiro. Jogarão ainda Toquinho, Miltinho, Jorge Bem e estarão no banco Gonzaguinha, Ivan Lins, Fagner e Moraes Moreira.
“Nós estávamos um pouco desamparados em Roma. Eu não estava trabalhando muito, vivia um pouco na expectativa de voltar para o Brasil, e Garrincha estava lá fazendo alguns bicos como jogador, participava de algumas peladas porque ele gostava e precisava, era um dinheirinho que entrava. Foi uma convivência muito especial e diferente de qualquer outra que possa ter. Ele era um sucesso formidável e gostava muito daquilo, geralmente eram jogos em Campinas perto de Roma, com arquibancadas improvisadas e times amadores. Era impressionante a popularidade do Garrincha, lembra Chico, o motorista orgulhoso.
A gente saía de carro e eu levava ele para essas peladas. Era impressionante como, sete anos depois da Copa de 62, todo mundo ficava atrás: Garrincha! Garrincha! E eu era o chofer dele. Fiquei impressionado que Garrincha pudesse gostar de João Gilberto. Nós falávamos de tudo, não era só de futebol e tomando cerveja, tomando grapa. Ele bebia, e eu, não posso falar nada porque eu bebia junto. Mas ele estava muito bem de espírito nunca vi o Garrincha bêbado. Bebia bastante mas estava sempre alegre, não tinha aquela coisa depressiva do alcoolismo.  
25 de janeiro de 1910
Nasce, no Rio de Janeiro, Maria Amélia de Carvalho Cesário Alvim, filha de Francisco Cesário Alvim e de Maria do Carmo de Carvalho  Cesário Alvim.
“Minha mãe é que sempre se ocupava das coisas práticas”, Chico resume o papel desempenhado por Memélia na família. Embora alegre, baixinha, com jeito de Irmã caçula da gente, era ela quem tomava providencias, pingando um pouco de realismo no lado romântico de meu pai. Acho que conseguiu uma boa mistura. Muito católica, fez questão de criar os filhos com todos os requisitos: primeira comunhão, crisma, colégio de padre. Então a minha formação é toda católica apostólica romana. Rigorosa mesmo. E sou Fluminense por culpa da minha mãe. Quem me levava para futebol era minha mãe, meu pai não dava bola para futebol.
2 de fevereiro
Em carta desta data, presume-se de 1971, Chico discute a letra de Valsinha com o parceiro Vinicius de Moraes, que estava morando na Bahia. A música de 1970, período em que Chico viveu em Roma, já vinha sendo cantada por ele em shows.
Carnaval de 1998
Para comemorar seus 70 anos, a Mangueira vai para o Sambódromo cantando Chico Buarque, que participa do desfile. E divide o primeiro lugar com a Beija-Flor.
Quando o carnaval chegar
Em 1972 estréia como ator no filme de Cacá Diegues com esse titulo, em que o empresário (Hugo Carvana) de um grupo de cantores sem sucesso (Chico,Nara Leão e Maria Bethânia) consegue um contrato para que se apresentem em homenagem a um rei que chegará a cidade para o carnaval.
Fevereiro de 1978
Chico passa um mês em Havana, na sua primeira visita a Cuba, integrando o júri de teatro do prêmio Casa de las Américas. “Tudo começou com uma visita à sua casa do jornalista Fernando Morais, que dois anos antes estivera em Cuba e escreveu “A Ilha”, seu primeiro livro. “Para nós tudo era novidade”, lembra Chico. Naquele tempo, só se ia a Cuba exilado ou clandestino. O grupo era formado por Ignácio de Loyola Brandão, Antonio Callado, Fernando Morais e eu. Ao voltar, todos foram detidos no aeroporto pelo Dops – Departamento de Ordem Política e Social, para prestar depoimento e dizer o que fizeram em Cuba.
O Brasil tinha rompido relações diplomáticas com a ilha em 1964 e muitos brasileiros viviam lá como exilados políticos. Embora não estivesse ali como cantor e compositor, em Havana Chico entrou em contato com Pablo Milanés, Silvio Rodriguez e outros nomes da Nueva Trova.

O Grande Circo Místico
Março de 1983. O balé do teatro Guaíra de Curitiba estreia um dos seus espetáculos de maior sucesso, O grande Circo Místico, que consolida a parceria de Edu Lobo e Chico Buarque. No começo de suas carreiras sempre estiveram ligados ao teatro – Edu fez as músicas de Arena conta Zumbi quase na mesma época em que Chico compunha a trilha de Morte e vida Severina.
Marieta Severo como Teresinha em Opera do Malandro
Calabar é a história de Calabar contada, na verdade, pela sua mulher, sua viúva, que é a grande personagem da peça. Na opera do malandro a Teresinha é a personagem que dá a volta na história. Escrevendo para teatro e fazendo música para cinema tenho necessidade de me colocar na psicologia de personagens diferentes e, entre eles, mulheres.” Uma delas tem uma história real e dura – Angélica, música em homenagem a Zuzu Angel, morta em 1976. “Eu a conheci muito. Durante anos depois da morte do filho (Stuart, vitima da repressão política) ela não fez outra coisa senão se dedicar a denunciar os assassinos do filho, a reivindicar o direito de saber onde é que estava o corpo dele. Ela ia de porta em porta. Sabia das ameaças que pairavam sobre ela e tinha certeza que, se alguma coisa acontecesse, a culpa seria dos mesmos assassinos do filho, que ela citava nominalmente. Ela passava em casa quase semanalmente, mostrando os relatórios do trabalho que estava fazendo aqui e nos Estados Unidos – porque, afinal, o pai de Stuart era americano. Na manhã do dia em que aconteceu o acidente com Zuzu, ela esteve em casa e deixou para as minhas três filhas as camisetas que fazia.
20 de Março de 1970
Depois de um ano em Roma – “e com um Vinicius a menos” -  a vontade era voltar. Na Itália fez um pouco de tudo para viver. Lançando disco italiano, cantando na televisão e nos palcos possíveis, fazendo figuração em shows de Josephine Baker, escrevendo artigos para O Pasquim, uma fugida ou outra até Paris. Alegrias, além da filha Silvia nascida em Roma, os encontros com os amigos Toquinho e Vinicius de Moraes e com os brasileiros que passavam por lá.
Contra a vontade de voltar pesavam a situação política no Brasil e o risco que isso representava, até mesmo de ser preso logo ao desembarcar, como era rotina naqueles tempos. Mais uma vez o conselho de Vinicius. Se voltar, volte fazendo barulho. Para inibir a ação policial-militar. E assim se fez. Na manhã de 20 de março Chico e Marieta Severo desembarcaram no Galeão, cercados de camaras de televisão, jornalistas, fotógrafos. A estratégia previa ainda lançamento de novo disco, show na boate Sucata e especial na TV Globo.
Abril 2004 | Benjamim
Depois de uma pré-estréia em São Paulo, com a presença de Chico Buarque, é lançado nacionalmente o filme Benjamim de Monique Gardenberg, que teve estreia mundial em 2003 no Festival de Sundance. Com Paulo José no papel do velho e esquecido modelo publicitário Benjamim Zambraia, que acerta contas com a sua consciência, a versão do romance de Chico Buarque para o cinema é assinada pela diretora em parceria com Jorge Furtado e Glênio Póvoas.
A trilha sonora inclui Elvis Presley e Jacques Brel.
Embora vendido pela publicidade como uma história de amor, para Marcelo Coelho, da Folha de S.Paulo, trata-se de um filme político de ponta a ponta, que traduz nas vidas de seus personagens e em situações pessoais e concretas, um único e mesmo trauma, que foi a repressão durante o regime militar.
25 de abril de1966
Com música de Chico Buarque para o poema de João Cabral de Melo Neto, Morte e vida Severina estreia no IV Festival de Teatro Universitário de Nancy e conquista França.
O Espetáculo do TUCA – Teatro da Universidade Católica, que havia estreado em São Paulo em setembro de 1965, divide o primeiro prêmio com um grupo da Turquia.
Dia do Trabalho
Chico admite, quando tem o reconhecimento de um sindicato, como o da Construção Civil de Minas Gerais, em Belo Horizonte. “Um dia eles me chamaram e me eram um prêmio, por causa da música Construção.
Depois de Construção, Chico compôs Primeiro de Maio em 1977, homenagem ao Dia do Trabalhador.
Em 1977, nascia um novo movimento de trabalhadores em São Paulo, liderados em São Bernardo do Campo pelos metalúrgicos do sindicato presidido por um jovem líder, Luís Inácio Lula da Silva. A resistência a ditadura militar havia ganhado as ruas desde a mobilização provocada pela morte do jornalista Wladimir Herzog, nos porões da repressão, dois anos antes.
No ABC paulista a maior concentração operária da América Latina – as cidades de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano e Diadema.
6 de maio de 1965      
Chega as lojas o primeiro disco de um certo Chico Buarque, lançado pela gravadora RGE. Um compacto com duas faixas “Pedro Pedreiro e sonho de um Carnaval”.
Dois anos depois Pedro Pedreiro inspirou a poeta e dramaturga Renata Pallotini a escrever uma peça de teatro Pedro Pedreiro, a peça estreou em 1968 no Festival de Teatro de Manizales, na Colombia, em espetáculo dirigido por silnei Siqueira ( o mesmo de Morte e vida Severina) com alunos da Escola de Comunicação de Artes (ECA) da Universidade de São Paulo.
10 de maio de 1989

Em turnê internacional que o levou de Portugal a Belgica, da Holanda a Venezuela, da Itália a Espanha, Chico desembarca na França onde grava ao vivo o seu show no Le Zenith, em Paris. Era um reencontro do cantor com a plateia de uma cidade que havia mais de vinte anos aplaudira Morte e vida Severina, no Teatro Odeon. Uma cidade que abrigou tantos exilados políticos brasileiros nos anos de 1960 e 1970. 

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