segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Anotações com Arte | Nara Leão


Edição especial 2008 / Fred Rossi | Pedro Sirotsky

Carlos Lyra, Fred Rossi, Roberto Menescal, Oswaldo Mendes, Luiz Carlos Miéle. Outono de 2007 Foto: Nelson Faria. 
50 Anos de Bossa Nova: O presidente Juscelino Kubitschek assiste desfile ao lado do vice João Goulart, do Ministro do Exército Henrique Lott e da primeira dama D. Sara 7 de Setembro, 1957 Brasília Foto: Antonio Nery
Bossa Nova não é um movimento, como se costuma dizer. É diferente do Tropicalismo, esse sim, um movimento que até manifesto tinha. Movimento é uma coisa premeditada enquanto que a Bossa Nova seria, melhor pensando, um surto cultural e inteiramente espontâneo surgido nos anos 50, durante uma época de grande desenvolvimento econômico e no governo de Juscelino Kubitschek – o Presidente  Bossa Nova. Esta época desenvolvimentista foi responsável por outros surtos culturais marcantes: entre os artísticos, pode se citar cinema novo, teatro de vanguarda (Arena,TBC,Oficina e Teatro dos 7), poesia concreta, literatura e artes plásticas. Entre os esportivos, campeonatos mundiais de futebol (1958 e 1962), basquete, Box, tênis, salto tríplice, tenis de mesa, pesca submarina etc... É digno de nota o titulo de Miss Universo concedido a gaucha Yeda Maria Vargas. Entre os industriais, o parque industrial de São Paulo, os automóveis JK, culminando com a construção de Brasília que revela, para o mundo, a arquitetura de Niemeyer, Lucio Costa e Burle-Marx.
Bossa Nova também não sofre, unicamente, influencia do jazz. Nunca conversa com Tom Jobim, chegamos a conclusão de que tínhamos exatamente as mesmas influencias do jazz West coast, dos grandes compositores populares norte americanos, do bolero mexicano e da canção francesa.   
Elis & Tom 1974 | Nem Sinatra Mereceu uma Dessas!
Tom Jobim jamais confessou, mas deve ter se arrependido e recusar aquela cantora um pouco estrábica e “muito caipira” para o seu gosto, quando dirigiu a gravação de Pobre menina rica de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes. Perdeu a chance de dar a Bossa Nova, que mal havia nascido, o luxo de ter o nome de Elis Regina registrado oficialmente na sua história. Se houve ou não arrependimento, Tom corrigiu a tempo o seu erro de avaliação, ao se trancar por quase três semanas com Elis, de 22 de fevereiro a 9 de março de 1974, no estúdio da MGM em Los Angeles, e gravar um dos melhores e mais importantes discos da musica brasileira, com arranjos de César Camargo Mariano. Elis & Tom também redime a historia da Bossa Nova da ausência da cantora que ainda hoje, três décadas depois de sua morte, se mantém como a melhor do País. O disco foi o presente que a gravadora Phonogran ofereceu a cantora para comemorar seus dez anos de carreira.
Ela Canta cada dia Melhor | 17/03/1945 – 19/01/1982
Em Porto Alegre, onde nasceu, já se ouvia falar dela desde que aos sete anos estreou no Clube do Guri, da radio Farroupilha, e depois assinou seu primeiro contato profissional para cantar no programa Maurício Sobrinho, na Radio Gaucha. Mas ninguém lhe deu atenção quando, em 1962, acompanhada pelo pai Romeu desembarcou no Beco das Garrafas, em Copacabana.
A gravadora Continental não sabia do brilhante que tinha nas mãos e queria transforma-la num arremedo da adolescente italiana Rita Pavoni, que vendia disco como água.
Elis contou, em entrevista ao suplemento Folhetim, da Folha de S. Paulo, em 1979, que sua mãe Ercília lia um romance de amor em que o casal se chamava Mister e Miss Elis quando ela nasce: E essa Miss Elis devia ser assim aquela mulher maravilhosa, que minha mãe gostaria de ter sido. Ela ficou faascinada com o nome. Aí meu pai foi me registrar: as tais horas, do dia 17 de março de 1945, nasceu uma criança do sexo feminino,que terá como nome... ele falou Elis.

Tamba Trio        
Quando um dos grupos mais longevos da Bossa Nova, o Tamba Trio, estreou na boate Bottle’s no Beco das Garrafas, em 19 de março de 1962, o pianista Luiz Eça já era um nome entre os músicos, com formação erudita na Austria e um respeitável currículo na noite carioca, onde começou na boate Plaza, entrando no lugar de Johnny Alf em um trio integrado por Ed Lincoln e Paulo Ney, que seriam substituídos por João Donato e Milton Banana, que depois formou seu próprio trio. Numa pausa das atividades do Tamba, entre 1977 e 1981, participou dos shows do grupo MPB-4. A indentidade indígena do grupo – tamba é nome de uma árvore – vem do instrumento de percussão com três tambores. 
Teatro Paramount  8 – 9 – 10 de Abril
No segundo semestre de 1964, os shows no Teatro Paramount deram a certeza de que havia em São Paulo um publico disposto a acolher a geração inquieta de músicos e compositores que já não cabia nos pequenos palcos da zona sul do Rio de Janeiro, onde a Bossa Nova se abrigava. O fino da bossa no dia 25 de maio de 1964, produzido pelo Centro acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da USP, estavam Alaíde Costa, Zimbo Trio, Paulinho Nogueira, Ana Lúcia, Rosinha de Valença, Jorge Bem, Oscar Castro Neves, Wanda Sá e Nara Leão.
Noel Rosa | A modernidade de Vila Isabel
Não se vive impunemente menos de 27 anos, criando quase 300 musicas em menos de dez anos de carreira profissional. Não se o personagem for Noel de Medeiros Rosa. Pensar nas influencias que desaguaram na Bossa Nova sem citar a sua obra é impossível.
Claudete Soares | No Meio do Tiroteio | Maio de 1960
Pra quem foi batizada por Luiz Gonzaga de “Princesinha do Baião”, receber o convite de Sylvinha Telles para substitui-la numa temporada na boate Plaza, em Copacabana, ao lado de Baden Powell, João Donato, Luiz Eça e Milton Banana já não era pouca coisa. Ronaldo Boscoli a incluiu em A noite do amor, do sorriso e da flor, em maio de 1960, na Faculdade de Arquitetura do Rio de Janeiro.
Maysa | Entre a Bossa e a Fossa
“C est la reine de la Bossa Nova”, reverenciou o jornal France Soir ao noticiar a estreia de Maysa no Olympia de Paris, em 1963. Os franceses certamente não estavam interessados na discussão que no Brasil até hoje põe em dúvida se a cantora poderia ser classificada como bossa nova. Para Jacques Brel e Sacha Distel, ídolos da canção francesa e amigos de Maysa, ela era a legitima representante daquela nova maneira de cantar o samba que encantava o mundo.
Antes de casar com André, da aristocracia família Matarazzo, a paulistana Maysa Figueira Monjardim ainda adolescente cantava e compunha ao piano (fez o samba Adeus quanto tinha 12 anos).
Ricardo Cravo Albin, em seu dicionário da Musica Popular Brasileira disponível na internet, considera Maysa a primeira divulgadora internacional da Bossa Nova, que cantou primeiro na Argentina e Uruguai e, depois nos palcos de Blue Angel em Nova York, do Cassino Estoril em Lisboa e no Olympia de Paris.

João Gilberto | Da Beira do Rio para o Mundo | 10.6.1931
Filho de Joviniano Domingos de Oliveira e Martinha do Prado, João Gilberto Pereira de Oliveira viveu em Juazeiro na Bahia, divisa com Pernambuco, até os 10 anos. Gostava de ficar horas e horas a beira do rio, ouvindo o coaxar dos sapos e vendo a luz, a claridade, os reflexos do sol na água. Tentava compreender aquilo tudo. Consegui sentir – compreender não compreendi. Mas aquilo ficou em mim e ainda hoje carrego comigo um bocado de todo aquele alumbramento, disse a Revista do Rádio em 1960. Aos 11 anos foi para um colégio interno em Aracaju, tocou na banda, voltou a Juazeiro em 1946 e, com violão que ganhou de presente do pai, formou um conjunto vocal Enamorados do Ritmo, que durou pouco. No ano seguinte estava em Salvador, de novo num colégio interno que abandonou para trabalhar na Rádio Sociedade da Bahia.
Elza Soares | Uma Estranha no Ninho
Quando a Bossa Nova nasceu em 1958, Elza Soares estava ganhando a vida, cantando em Buenos Aires, filha do operário Avelino Gomes e da lavadeira Rosária Maria da Conceição, Elza teve seu primeiro filho aos 12 anos. Nascida na favela de Vila Bonita, uma das primeiras do Rio de Janeiro, a vida não lhe veio de bandeja. Precisou correr atrás. Aos 1 anos decidiu defender algum no programa Calouros em desfile, que Ary Barroso apresentava na Rádio Tupi.
Quando subiu ao palco, com uma saia cheia de alfinetes e duas marias-chiquinhas no cabelo, o auditório caiu na gargalhada. Ary ficou só olhando aquela menina magra e sem graça.
O que você veio fazer aqui?
- Ué eu vim cantar.
E quem disse que você canta?
- Eu.
Mas, afinal, de que planeta você veio?
- Do planeta fome.
Aos 20 anos e mãe de cinco filhos, era empacotadora numa fabrica de sabão, quando conheceu Mercedes Batista, que a levou para o seu elenco de bailarinas e em cuja Companhia viajou para a Argentina em 1958. Ao voltar ao Rio no ano seguinte conseguiu contrato para cantar numa casa de Copacabana, o Texas Bar, onde conheceu Sylvinha Telles e Aloysio de Oliveira.
Garoto | O violão de gente humilde | 28.6.1915 – 3.5.1955
Paulinho da Viola esta entre alguns que colocam o violonista Garoto, nascido em São Paulo, como um dos precusores da Bossa Nova: “Eu me incluo nesse alguns”, disse Paulinho em entrevista a Fabiano Rampazzo de O Estado de S. Paulo em fevereiro de 2007. Era um exímio instrumentista a até hoje falta espaço para esse tipo de música. Mas não acho que Garoto seria mais conhecido se fosse carioca, não.

Teresa da Praia | Ministros sem Pasta | Julho de 1954
Se nos auditórios de rádio a disputa era entre Marlene e Emilinha Borba, num circulo pequeno e menos barulhento a plateia formada de músicos e cantores se dividia entre Dick Farney e Lúcio Alves. A gravação e o sucesso de Teresa da praia serviu para reunir “dois monstros sagrados” e consolidar a sua influencia. Dick Farney e Lúcio Alves, diz Ruy Castro, “tornaram clássico quase tudo que gravaram. Inspiraram seguidores sofisticados, abriram o caminho para a Bossa Nova, participaram dela como ministros sem pasta e, juntamente com ela, foram atropelados pelo processo. Na passagem dos anos 60 para 70, os dois viram seu mercado encolher dramaticamente. Mas nunca se prostituiram, nunca fizeram concessões a estilos em que não acreditaram. E pagaram por isto: morreram tristes, abandonados pelas gravadoras, afastados do público – Dick, em São Paulo, em 1987, aos 66 anos, Lucio, no Rio, em 1993, também aos 66 anos.
Caymmi 1964
Das suas muitas contribuições a Bossa Nova, uma tem a ver com a colocação no mercado dos novos artistas que estavam surgindo. Com prestigio na Odeon, Dorival convenceu o presidente da gravadora a trazer de volta para o Brasil em 1956 o Aloysio de Oliveira (1914 – 1995), cantor, compositor e ex-integrante do bando da lua, que foi para os Estados Unidos com Carmen Miranda nos idos de 1940 e por lá ficou.

João Donato | A Bossa Instrumental | 18.8.1934
João Donato de Oliveira Neto, antes de aprender acordeão e piano, tirava musica de pequenas flautas de bambu e panelas. Tinha 11 anos quando se mudou de Rio Branco, no Acre, para o Rio de Janeiro com a família e logo começou a tocar em festas escolares.
Em 2007 lançou dois CDs, “O piano de João Donato” e uma tarde com Bud Shank e Joao Donato com o saxofonista que atuou com o pianista Stan Kenton, seu ídolo.
O Fino da Bossa | A geração Paramount | 1964
Não por acaso Elis Regina estreou em São Paulo no teatro Paramount, no show boa bossa, no dia 31 de Agosto de 1964, apresentado pelo radialista Humberto Marçal, que ao lado de Walter Silva, foi um dos que abriram espaço para a Bossa Nova nas emissoras paulistas. Com produção de Solano Ribeiro, Arley Pereira e Teco, e organizado pelas moças da colônia sírio libanesa, o espetáculo beneficiente ajudou a firmar o Paramount como o templo não só da Bossa Nova, mas de toda a renovação musical que ela estimulou. Naquela noite Elis acabou com o baile, segundo Walter Silva, o Pica Pau apelido por conta do programa que fazia na Rádio Bandeirantes, O Pick-up do Pica Pau. Pick Up, é bom explicar, era sinônimo de vitrola, de toca-disco.
Boa bossa deu tão certo que Walter foi convidado pelos alunos da Escola Paulista de Medicina a produzir um outro show, cuja renda, depois das contas pagas, ajudaria na festa de formatura.
CPC DA UNE | A Classe Média Vai ao Povo | Setembro de 1961
Musica de classe média, a Bossa Nova enveredou pela política, até chegar as canções de protesto, conduzida por Carlinhos Lyra. E o Sérgio Ricardo, que não se reconhecia bossa nova, ele diz, referindo-se ao cantor, compositor e cineastam paulista do interior (Marília), que deixou as sofisticadas harmonias de Pernas e Folha de papel, e que falava de amor até nas canções de cunho social como A fábrica e Enquanto a tristeza não vem, para anunciar que o sertão vai virar mar no filme de Glauber Rocha Deus e o Diabo na terra do Sol.

Leny e a Influencia do Jazz | New York Times | Outubro de 1983
Aos quarenta anos, ela foi apresentada pela boate Blue Note, em outubro de 1983, como a Brazil’s n. 1 jazz Singer e o critico do jornal New York Times comparou a sua interpretação a agilidade jazzística de Ella Fitzgerald.

Roberto Menescal | Entre o Mar e a Bossa | 25.10.1937
De poucos se pode dizer que a Bossa Nova se confunde com a própria vida. Entre eles o mais notáveis é o capixaba Roberto Batalha Menescal, que garoto chegou ao Rio de Janeiro, adotou e foi adotado pela cidade, aos 17 anos já mandava ver seu violão como profissional, acompanhando a cantora Sylvinha Telles em shows pelo Brasil, Uruguai e Argentina.
“Eu tomei contato com a musica brasileira mesmo através do Patricio, ele que me mostrou as coisas bonitas. Eu era roqueiro”. Depois, aprendeu teoria cokm Guerra Peixe e Moacyr Santos, por recomendação da cantora Sylvinha Telles, enturmou-se com Carlos Lyra e juntos criaram uma academia de violão em Copacabana. Estava lá fazendo a Bossa Nova nascer e a embalou com O barquinho, em parceria com Ronaldo Boscoli, com quem dividia a mesma paixão pelo mar, tendo o mergulho e a pesca como seus esportes favoritos. Foi num fim de semana no mar, em Angra dos Reis, que eles fizeram O barquinho.
Ronaldo Bôscoli | Uma vocação de agitador | 27.10.1929 – 18.11.1994
Diante de Ronaldo Bôscoli a única atitude que não cabia era a indiferença. Nara Leão o expulsou da sua vida ao saber que ele, com quem estava de casamento marcado, aproveitou uma viagem a Buenos Aires para se envolver com Maysa. O parceiro Carlinhos Lyra rompeu com ele por antagonismo ideológico quando a Bossa Nova se dividiu entre esquerda e direita. O casamento com Elis Regina – ele com 38 anos, ela com 23 – durou cinco tumultuados anos. Enfim, Ronaldo Fernando Esquerdo Boscoli podia não ser uma flor de pessoa, mas o sobrinho-bisneto de Chiquinha Gonzaga esteve no olho do furacão que transformou a musica brasileira nos anos de 1950. Amigo e cunhado de Vinicius de Moraes (que se casou com a sua irmã Lila, apesar dos seus protestos iniciais), teria sido ele o primeiro a sugerir ao poeta o nome de Tom Jobim para fazer as musicas de Orfeu da Conceição, além de mexer no vocabulário da peça para adequa-lo a uma linguagem corrente, com gírias e expressões mais contemporâneas.

Cornegie Hall | E o Barco Não afundou | 21.11.1962
Para os críticos adversários, como o historiador José Ramos Tinhorão, o Bossa Nova at Carnegie Hall, na noite chuvosa de 21 de Novembro de 1962, foi a prova definitiva da submissão daqueles artistas a influencia do jazz. Um dos poucos que se contrapôs ao, que seja, movimento desde o começo, Tinhorão nem precisou viajar a Nova York, para escrever na revista O Cruzeiro que a “Bossa Nova desafinou nos EUA”.
Miúcha | Da Bossa Velha a Nova | 30.11.1937
No ambiente musical de casa do historiador Sérgio Buarque de Hollanda e Maria Amélia, a filha Helísa Maria, a primeira dos sete filhos do casal, era quem arranhava o violão de codinome Vinicius, homenagem ao poeta, amigo da família. “Boa parte da adolescência, ela passou tentando imitar o repertorio e os trinados de Edith Piaf, querendo impressionar a mãe, que adorava a cantora. Miúcha tocava e cantava bossa-velha, lembra o irmão Chico que só se interessou pelo violão quando apareceu um tal João Gilberto.

Alaíde Costa | Um insuperável fio de voz | 8.12.1935
Foi João Gilberto quem primeiro percebeu a modernidade da voz elegante, suave e afiadíssima da carioca Alaide Costa Silveira Mondin Gomide e a colocou em contato com Carlinhos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Boscoli e todo o pessoal da Bossa Nova, em 1959. Timidez por timidez,a dela certamente era maior que a do João. E ela coemçou a frequentar as reuniões musicais no apartamento de Copacabana. Naquele ano, Alaíde e Sylvinha Telles foram as únicas cantoras profissionais chamadas para o 1º Festival de Samba-Session, que aconteceu em setembro na PUC – Pontificia Universidade Católica do Rio, e organizado pelo diretório acadêmico presidido por Cacá Diegues, que depois se casaria com Nara Leão.

Opinião | Esquerda Volver | 10.12.1964
Em 1964, com os militares no poder, o Brasil não era mais tão risonho e franco como nos tempos da euforia desenvolvimentista da segunda metade dos anos de 1950. E os rapazes da Bossa Nova já não se  contentavam em cantar “ó que linda namorada você poderia ser”. Eles se politizaram, somaram-se aos estudantes nas ruas e na UNE – União Nacional dos Estudantes, cantando “este é um país subdesenvolvido” (Carlos Lyra e Chico de Assis). A síntese desse engajamento político do pessoal da música, na trilha da turma do teatro, estreou em dezembro de 1964 no Teatro Arena.

Dulce Bené Nunes | Os anfitriões da Bossa Nova | Dezembro de 1959
Boate típica do Rio de Janeiro nos anos de 1950. Muita fumaça, ruído confuso de vozes. Câmara fecha sobre uma mesa. Um dos convivas se vira para is demais e, dedo nos lábios, os repreende: “Pssiiu! Bené Nunes!” Silencio. Camara corta para o palco onde Bené Nunes ataca ao piano um sucesso da época, Jalousie. A cena de um dos vários filmes de que participou diz bem do sucesso do pianista-galã e compositor carioca Benedito da Penha Nunes (1920-1997), autodidata, virtuose e, segundo o amigo Miéle, bom de briga – quando entrava em uma, era difícil tira-lo, mesmo que estivesse levando a maior surra, como quando enfrentou, sem saber, um alemão campeão de luta romana. O alemão só empurrava, não queria bater no Bené, porque acabaria com ele. Afinal, era um profissional. Bené só aceitou parar quando o adversário disse para todo mundo ouvir que desistia de enfrenta-lo. Para efeitos históricos oficiais, porém, Bené era um cavalheiro, um gentleman que se tornou protegido de presidente Juscelino Kubitschek, de quem ganhou um emprego de auditor fiscal e a preferência para tocar em festas e eventos no Palácio do Catete.
Em 1956, quando Bené se casou com Dulce, o apartamento do casal na Gávea se transformou em ponto de encontro da Bossa Nova e cenário, em dezembro de 1959, das fotos reunindo todo o elenco principal do movimento, com participação especial de Ary Barroso, para uma grande reportagem pautada pela revista O Cruzeiro, e que saiu na edição de fevereiro de 1960.
A Hebraica | Batismo | 1957
Quem batizou aquele grupo de rapazes de os Bossa Nova? Quem souber do seu paradeiro, favor informar. O fato é que a pessoa que deu nome ao que faziam na musica aqueles rapazes sumiu no tempo. Nem seu nome ninguém sabe. De vez em quando, Carlos Lyra, o  mais obstinado investigador do paradeiro desse personagem misterioso, recebe uma pista e vai atrás. Ele contesta até mesmo a versão publicada por Ruy Castro de que se trataria do jornalista Moisés Fuks, que na época trabalhava no jornal Ultima Hora: “O criador do nome Bossa Nova era diretor cultural da Hebraica, era um judeu baixinho, lourinho, com cabelo cortado a escovinha. O Moisés é grande e o conheço bem”, diz Carlinhos que ouviu do próprio Moisés a negativa de ter qualquer participação no batismo da Bossa Nova.

Tudo aconteceu em 1957, quando esse personagem misterioso, ligado ao Grupo Universitário Hebraico, resolveu promover uma noite de música na Sociedade hebraica que, na época ficava no Flamengo e só depois mudou para a sede em Laranjeiras. 

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