segunda-feira, 21 de setembro de 2015


A Conspiração dos imbecis
Revista Veja | Entrevista Umberto Eco  Eduardo Wolf, de Milão


O escritor diz que a internet dá voz a todo tipo de opinião desqualificada e que o jornalismo, tema de seu novo romance, deve atuar como um filtro para o que se lê na rede.
O castelo Sforzesco, em Milão, preserva tesouros da arte italiana, como a Pietá Rondanini, de Michelangelo. Um dos sóbrios edifícios residenciais em frente ao castelo abriga outro tesouro italiano:
Umberto Eco, filósofo, crítico literário e romancista traduzido em mais de quarenta idiomas. O autor de O Nome da Rosa, romance ambientado na Idade Média que vendeu mais de 30 milhões de exemplares, lançou neste ano Número Zero – que chega ao Brasil nesta semana, pela Record – um retrato crítico do jornalismo subordinado a interesses políticos. Na casa milanesa, onde conserva uma biblioteca de 30 000 livros, Eco (83 anos) recebeu a Veja para falar de jornalismo, internet, conspirações e literatura.
Foi um estrondo a sua declaração, em uma cerimônia na Universidade de Torino, de que a internet dá voz a uma multidão de imbecis.
O que o senhor achou da dimensão que o assunto tomou?
- Não estou falando ofensivamente quanto ao caráter das pessoas. O sujeito pode ser um excelente funcionário ou pai de família, mas ser um completo imbecil em diversos assuntos.
Com a internet e as redes sociais, o imbecil passa a opinar a respeito de temas que não entende.
É preciso filtrar, distinguir. Foi nesse sentido que defendi recentemente que os jornais, em vez de se tornarem vítimas da internet, repetindo o que circula na rede, deveriam dedicar espaço para a análise das informações que circulam nos sites, mostrando aos leitores o que é sério e o que é fraude.
Será que os jornais estão prontos para isso?
Isso é muito importante para os jovens, pois eles não tem aos 15, 16 anos, conhecimentos necessários para filtrar as informações a que tem acesso na rede. Assim como quem lê diversos jornais acaba aprendendo a distinguir abordagens distintas de cada um deles.
A crise do jornalismo começa nos anos 50, com a televisão. Depois da TV os jornais passaram a dizer, pela manhã, o que as pessoas já sabiam. Eles deveriam ter mudado – e não mudaram. Neste contexto, significaria reduzir o número de páginas, em vez disso, ampliaram o tamanho, sobretudo por razões de publicidade.
Os jornais exploram continuamente escândalos, como por exemplo, um assunto polemico envolvendo a pedofilia, Depois de certo tempo, o assunto começa a desaparecer, até que nenhum veículo tem mais nada a noticiar sobre o assunto. Os pedófilos deixaram de existir?
Certamente não, mas nenhum jornal pode insistir nas mesmas notícias por muito tempo.
Pode até ser divertido, enquanto tomo o café, ler mais detalhadamente uma matéria mais longa. Acredito que Hegel estava certo:

A leitura dos jornais de manhã é a oração do homem moderno. 

No livro, o fascismo de Mussolini é uma sombra sobre a história italiana do pós guerra. Qual é a cara atual do fascismo?


- O fascismo clássico, representado por Mussolini, desapareceu. A atitude política da Liga Norte, discriminatória e racista, é uma nova forma de fascismo. 

Trata se de uma questão de atitude política mais ampla do que a experiência histórica de Mussolini, e podemos encontra la em diferentes contextos históricos. Veja o Estado Islâmico, que eu chamo de o novo nazismo: querem aniquilar outras etnias, impor um credo, conquistar o mundo e etc. 

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