A
Conspiração dos imbecis
Revista Veja |
Entrevista Umberto Eco Eduardo Wolf, de
Milão
O escritor
diz que a internet dá voz a todo tipo de opinião desqualificada e que o
jornalismo, tema de seu novo romance, deve atuar como um filtro para o que se
lê na rede.
O castelo Sforzesco,
em Milão, preserva tesouros da arte italiana, como a Pietá Rondanini, de Michelangelo.
Um dos sóbrios edifícios residenciais em frente ao castelo abriga outro tesouro
italiano:
Umberto Eco,
filósofo, crítico literário e romancista traduzido em mais de quarenta idiomas.
O autor de O Nome da Rosa, romance ambientado na Idade Média que vendeu mais de
30 milhões de exemplares, lançou neste ano Número Zero – que chega ao Brasil
nesta semana, pela Record – um retrato crítico do jornalismo subordinado a
interesses políticos. Na casa milanesa, onde conserva uma biblioteca de 30 000
livros, Eco (83 anos) recebeu a Veja para falar de jornalismo, internet,
conspirações e literatura.
Foi um
estrondo a sua declaração, em uma cerimônia na Universidade de Torino, de que a
internet dá voz a uma multidão de imbecis.
O que o
senhor achou da dimensão que o assunto tomou?
- Não estou
falando ofensivamente quanto ao caráter das pessoas. O sujeito pode ser um
excelente funcionário ou pai de família, mas ser um completo imbecil em
diversos assuntos.
Com a
internet e as redes sociais, o imbecil passa a opinar a respeito de temas que não
entende.
É preciso filtrar,
distinguir. Foi nesse sentido que defendi recentemente que os jornais, em vez
de se tornarem vítimas da internet, repetindo o que circula na rede, deveriam
dedicar espaço para a análise das informações que circulam nos sites, mostrando
aos leitores o que é sério e o que é fraude.
Será que os
jornais estão prontos para isso?
Isso é muito
importante para os jovens, pois eles não tem aos 15, 16 anos, conhecimentos
necessários para filtrar as informações a que tem acesso na rede. Assim como
quem lê diversos jornais acaba aprendendo a distinguir abordagens distintas de
cada um deles.
A crise do
jornalismo começa nos anos 50, com a televisão. Depois da TV os jornais
passaram a dizer, pela manhã, o que as pessoas já sabiam. Eles deveriam ter
mudado – e não mudaram. Neste contexto, significaria reduzir o número de
páginas, em vez disso, ampliaram o tamanho, sobretudo por razões de
publicidade.
Os jornais
exploram continuamente escândalos, como por exemplo, um assunto polemico
envolvendo a pedofilia, Depois de certo tempo, o assunto começa a desaparecer,
até que nenhum veículo tem mais nada a noticiar sobre o assunto. Os pedófilos
deixaram de existir?
Certamente
não, mas nenhum jornal pode insistir nas mesmas notícias por muito tempo.
Pode até ser
divertido, enquanto tomo o café, ler mais detalhadamente uma matéria mais
longa. Acredito que Hegel estava certo:
A leitura dos
jornais de manhã é a oração do homem moderno.
No livro, o fascismo de Mussolini é uma sombra sobre a história italiana do pós guerra. Qual é a cara atual do fascismo?
- O fascismo clássico, representado por Mussolini, desapareceu. A atitude política da Liga Norte, discriminatória e racista, é uma nova forma de fascismo.
Trata se de uma questão de atitude política mais ampla do que a experiência histórica de Mussolini, e podemos encontra la em diferentes contextos históricos. Veja o Estado Islâmico, que eu chamo de o novo nazismo: querem aniquilar outras etnias, impor um credo, conquistar o mundo e etc.
No livro, o fascismo de Mussolini é uma sombra sobre a história italiana do pós guerra. Qual é a cara atual do fascismo?
- O fascismo clássico, representado por Mussolini, desapareceu. A atitude política da Liga Norte, discriminatória e racista, é uma nova forma de fascismo.
Trata se de uma questão de atitude política mais ampla do que a experiência histórica de Mussolini, e podemos encontra la em diferentes contextos históricos. Veja o Estado Islâmico, que eu chamo de o novo nazismo: querem aniquilar outras etnias, impor um credo, conquistar o mundo e etc.
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