segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A Arte de Negociar | Mark H. Mc Cormack



Para quem se interessa no mundo esportivo, no marketing esportivo e no profissionalismo, mais uma pista da incompentencia e do plágio ruim:
Talvez você esteja se perguntando, e com todo o direito, quem sou eu para ditar regras a respeito de negociações.
Não sou um palestrista sobre a arte de negociar, não ministro programas de doze horas seguidas em hotéis, onde enuncio quais são as “trinta e duas maneiras de fechar um negócio”, com imagens de um projetor, ou divido a audiência em pequenos grupos para orienta-los ao longo de algumas situações fictícias de negociação.
Também não realizo fusões corporativas de muitos bilhões de dólares, do tipo que você lê nas primeiras páginas dos jornais.
Não posso deixar de pensar que estão negociando com “fichas de jogo”, em geral emprestadas a eles por um banco ou fornecidas pelos acionistas da empresa em questão. Eu ficaria muito mais impressionado se esse dinheiro viesse dos bolsos dos próprios negociadores.
Minha única credencial se resume no fato de que eu dirijo uma empresa de marketing esportivo, a qual eu fundei há trinta e cinco anos, em Clevend, Ohio. Iniciada com um capital de 500 dolares, ela se chama Internacional Management Group.
Nós representamos centenas de atletas famosos, tais como Arnold Palmer, Jackie Stewart, Jean-Claude Killy, Bjorn Borg, Chris Evert, Alberto Tomba e Andre Agassi.
Nós criamos e dirigimos os mais diversos eventos, tais como Toyota Word Match Play, em Wentworth, um concerto de José Carreras em Cingapura, o Grande Prêmio de Detroit de automobilismo, Jesus Christ Superstar em Sydney e o Dubai Snooker Classic.
Também representamos a Fundação Nobel. Ajudamos a desenvolver os interesses comerciais pelo Torneio de Wimbledon e pelo Royal and Ancient Golf Club de St. Andrews.
Nossa divisão no setor de televisão, a Trans World International, representa os direitos de transmissão de eventos esportivos como os Jogos Olímpicos, os campeonatos mundial e europeu de Figure Skating, a National Football League, todos os campeonatos mais importantes de golfe e tênis e as 24 horas de Le Mans. Também é a maior produtora independente, em todo o mundo, de programação esportiva para a televisão.
Eu já negociei serviços pessoais e patrocínios para nossos clientes em todos os continentes. A medida que nossa empresa crescia, também entrei em negociações com firmas imobiliárias para obter mais espaço para nossos escritórios em Londres, com funcionários, para tratar de suas indenizações trabalhistas e com inescrutáveis executivos da televisão japonesa, para tratar de programações esportivas. Em quase todos os casos, não importa se a quantia envolvida fosse 1.000 libras ou 400 milhões de dólares, sempre as considerei muito altas, porque costumo negociar com o dinheiro de meus clientes ou com o meu.
Antes de começar a escrever este livro, pesquisei meus concorrentes nessa área. Os bons livros sobre o assunto abriram-me os olhos para um mundo novo de termos típicos, usados pelos negociadores, como MAPAN (a Melhor Alternativa Para um Acordo na Negociação) e “papão” (que eu sempre pensei que fosse uma tacada acima do par no golfe mas que, para os teóricos da negociação, significa um artifício imaginário com o intuito de ameaçar o outro lado).
Esses livros estavam repletos de situações hipotéticas, maneiras espertas de desenvolver a teoria dos jogos, histórias impressionantes, recolhidas de jornais e revistas.
A mais interessante delas (retirada do livro de William Ury, Getting Past No, uma obra superficial mas útil) é a do homem que deixou dezessete camelos para seus três filhos. Metade dos animais deveria ficar para o mais velho, um terço para o segundo filho e um nono para o caçula. Quando os herdeiros tentaram dividir seu legado, não conseguiram encontrar uma solução porque dezessete não pode ser dividido por dois, por três ou por nove.
Então, eles foram consultar uma sábia mulher, que lhes disse: “Vejam o que acontece se vocês colocarem também o meu camelo no lote.” Evidentemente, totalizou dezoito camelos e o mais velho ficou com a metade, ou seja, nove animais. O filho do meio retirou seu terço, ou seja, seis, e ao terceiro restou sua nona parte, ou seja, dois. A soma de nove, seis e dois é dezessete, portanto lhes sobrava um animal, que foi devolvido a verdadeira proprietária.
A maioria dos treinadores tem uma ideia do que constituiu talento num atleta. Eles procuram elementos básicos como velocidade, força, resistência, visão e gesto bem coordenados, graça e reflexos rápidos. Depois disso, buscam as qualidades mais raras de um campeão: persistência, visão perfeita e aspectos intangíveis como autoconfiança, firmeza mental e o instinto de vencedor.
Existe uma diferença entre ser apreciado pelo outro lado e a necessidade desse apreço.
Conseguir ser apreciado em função de sua inteligência, simpatia, honestidade ou senso de humor representa um elemento de força. Quando o outro lado pode se decidir de maneiras radicalmente opostas numa transação, há mais probabilidades de que venha ceder para quem aprecie mais.
Já a necessidade de ser apreciado consiste numa fraqueza, em especial se o fato de satisfaze-la leva ao sacrifício dos pontos em negociação.
Pessoas com essa compulsão de serem apreciadas são muito fáceis de seduzir. Preferem perder dinheiro na mesa de negociações a ofender o outro lado. Negociadores de talento jamais permitem que amizades afetem sua firmeza durante uma transição. Eles sabem que se trata apenas de negócio.

Não ser necessariamente a pessoa mais esperta da sala

A pessoa mais esperta da sala não será, necessariamente, a melhor negociadora. Na verdade, talvez seja a pior, em especial se julga ter todas as respostas e, por consequência, mostra-se negligencia em fazer as perguntas certas.
Antes de uma negociação, lembro a mim mesmo de discutir cada um dos pontos como se eu estivesse partindo da estaca zero. Não pretendo fingir-me de esperto em áreas que não conheço bem e estou disposto a confessar ignorância nas que me considero perito.
Se o outro lado toma certos pontos como decididos, porque sempre se faz assim, eu desafio a tradição. É incrível como o fato de pedir que lhe expliquem o raciocínio oculto por trás de uma cláusula padrão pode proporcionar-lhe um resultado muito mais favorável e definitivamente fora dos padrões.
A beleza de não precisar ser a pessoa mais esperta da sala está no fato de que essa posição desiquilibra o outro lado. Eles ignoram o que você realmente sabe e, dessa forma, costumam exagerar os seus talentos, pois os desconhecem.
Um treinador de basquete de uma universidade contou-me sobre sua técnica ao recrutar um jogador, ainda no colegial, que era famoso na Pennsylvania. Após vê-lo jogar numa partida importante para o campeonato estadual, foi visitar o rapaz e seu pai. Explicou-lhes as limitações das bolsas oferecidas pela instituição que representava e ofereceu uma bolsa parcial.
Pai e filho não disseram uma só palavra.
Embora o treinador já tivesse negociado várias ofertas de bolsas com muitos pais espertos ( e ambiciosos) e seus filhos jogadores, perturbou-se com aquele silencio. Não esperava que um garoto de dezessete anos fosse se mostrar difícil. Então melhorou sua oferta, acenando com uma bolsa total.

Mais tarde, o treinador veio a saber que o silencio do garoto não era uma tática de negociação. Ele era tímido e seu pai era ingênuo. Para os dois, a oferta inicial fora tão generosa que não sabiam o que dizer. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário