segunda-feira, 2 de novembro de 2015

História do Futuro - O Horizonte do Brasil no século XXI

 O Brasil está prisioneiro do imediato. O presente virou um redemoinho que suga e impede o país de escrever seu futuro. A crise que nos atinge em várias frentes assusta e paralisa. Somos o primeiro país em biodiversidade do mundo. E daqui em diante o planeta precisará mais dela. Somos o segundo maior reservatório de água doce. No futuro a escassez será recorrente. Temos o maior potencial de energia renovável por quilômetro quadrado. A maior floresta tropical do mundo não precisa ser derrubada para ampliarmos a produção porque as técnicas de produtividade estão denominadas. Os tempos de crise fazem o país esquecer suas vantagens e não ver o futuro. Retrocessos nos deixam desolados. O número de brasileiros não é tão grande que seja um peso nem tão pequeno que seja um limitador. Nos próximos 30 anos, vamos apressar o passo em educação não por um lema de governo. As famílias valorizam mais a educação. A economia sairá dessa crise como saiu de outras que ameaçaram roubar nosso futuro. Hoje temos um mercado interno mais amplo, estabilidade monetária... Na vida dos países há momentos decisivos. Países como pessoas, vivem períodos em que nenhum fato relevante acontece, como se o tempo parasse. Foi assim nos 14 anos entre a chegada da corte portuguesa ao Brasil e a independencia e no biênio que nos trouxe abolição e República. Vivemos agora outra hora de escolhas decisivas neste que é o mais longo período democrático desde a queda da monarquia. Aqueles foram momentos fundadores do país, agora é a chance de lançar as bases para o futuro ou vivermos o risco de perde lo. Em uma viagem de trabalho a Argentina, em 2003, fui filmar um panelaço que saiu as ruas. Em época de transição, com abruptas mudanças de cenário, previsões categóricas envelhecem. Não tenho pretensão de fazer previsões e sim de ajudar com aquilo que o meu oficio me ensinou. Jornalista deve olhar os sinais, entrevistar quem sabe, analisar os dados. Neste livro, uso as ferramentas que a profissão me deu para fazer a prospecção das sementes do tempo que virá. Tudo depende do mapa que seguimos para chegar ao objetivo. O futurólogo australiano Peter Ellyard diz em seu livro - Destination 2050 - que nós não podemos criar um futuro que inicialmente não imaginamos. Imaginemos o nosso sobre bases sólidas, o curto prazo, ás vezes, nos faz reféns do pensamento negativo, mas é possível supor que o Brasil atingirá níveis elevados de desenvolvimento nas próximas décadas. Em dez anos, o Brasil pode dobrar sua produção de grãos, continuar elevando o volume das Safras nos anos seguintes e, ao mesmo tempo, alcançar o desmatamento líquido zero. Somos o país com maior biodiversidade no mundo, temos terra e àgua em abundância. Parece uma afirmação alienada para quem tem em mente a crise hídrica de 2014-15. O futuro da escassez, de risco de colapso de abastecimento, de conflitos entre entes federados pelo direito a rios comuns nos visitou. O futuro é feito de incógnitas e surpresas, e de escolhas. A conjuntura muda porém há tendencias que já estão decididas. Na manhã de uma semana confusa eu fui ao 22 andar do prédio da Petrobrás, no Centro do Rio de Janeiro, conversar com a presidente Graça Foster. A pauta jornalística estava ocupada por controvérsias sobre a maior empresa do Brasil. A crise pioraria muito nos meses seguintes. Pedi uma convera sobre os cenários da estatal e do Petroleo e durante uma hora, 35 minutos e 32 segundos Graça respondeu as minhas perguntas sobre o planejamento estratégico para 2030 com uma calma que não denunciava o tamanho do fosso do qual a empresa se aproximava. Eu desligava o gravador quando o presidente invadiu como um bólido a nossa conversa. Pálido um assessor interrompeu o encontro e disse: - Eduardo Campos acaba de morrer num acidente aereo. Era o trágico dia 13 de Agosto de 2014, em que o país perdeu um jovem politico com carreira promissora, que concorria a Presidencia com a esperança de ser uma alternativa a polarização PT X PSDB. Um pedaço do futuro politico do país acabava de desaparecer. Uma nova etapa da eleição começava a partir daquela tragédia, pensei enquanto me dirigia a sede de O Globo. As oscilações nas pesquisas foram intensas e os partidos que disputavam a Presidencia tiveram de refazer suas estratégias. Outras mudanças drásticas aconteceram nos seis meses seguintes. O preço do petróleo caiu para um nível que não estava no radar de nenhuma empresa do mundo. A diretoria foi trocada e Graça perdeu o cargo. Uma agencia de risco rebaixou a nota da estatal, ela perdeu o selo de bom investimento e passou a ser um ativo de risco. Para enfrentar a crise precisou alterar seu planejamento. Você pode pensar que a entrevista foi perda de tempo porque muita coisa mudou na empresa e no mercado em que ela atua. Aprendi que, mesmo em um tempo nervoso, quando a terra treme, a utilidade de uma conversa sobre o longo prazo permanece baseado não no cargo que exercia, mas em sua experiência de 35 anos no setor. Graça me disse que o Brasil será um grande produtor de Petróleo, o mundo vai usar menos combústiveis fósseis, haverá um imposto mundial sobre emissões. Ela previu a queda do preço do petróleo, mas pensava que ele cairia menos e mais tarde. O brasileiro está insatisfeito com a democracia, desconfia dos políticos e acha que o governo gasta mal o dinheiro que sai do seu bolso. Esse descontentamento fortalece a democracia e não o contrário, e é ele que fará o país continuar aperfeiçoando as Instituições. Não haverá reforma que, por mágica, corrijo todos os defeitos do sistema político, mas o país passará nas próximas décadas por várias mudanças na forma de votar e de organizar a relação entre o eleitor e seu representante. O que hoje parece definitivo é alterado a cada dia. Por isso o sociólogo espanhol Manuel Castells, que sempre avisou sobre a formação de alianças digitais para influir no mundo político real, começa seu livro Redes de Indignação e esperança com uma frase curta e sincera: "Ninguém Esperava" Ele se referia as manifestações que eclodiram em 2011 no mundo árabe. A tecnologia está no meio de um processo revolucionário que afetará todos os aspectos da vida. No livro A Nova Era Digital, os presidentes do google Eric Schmidt e do Google Ideas, Jared Cohen preveem que até 2025 a maior parte da população mundial terá saído, em uma geração, da quase total falta de acesso a informações não filtradas, para o domínio de toda a informação do mundo através de um aparelho que cabe na palma da mão. Se o ritmo atual de inovação tecnológica for mantido, a maioria da população da Terra estará on line. Por Miriam Leitão

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