quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Taxi Driver  Por José Geraldo Couto 

JORNAL A FOLHA DE SÃO PAULO
CONTA 100 ANOS DE CINEMA
1995 - Organizador Amir Labaki


Taxi Driver não só é um dos filmes mais importantes dos anos 70, como é um dos que menos envelheceram desde então. Ao contrário: o progressivo enlouquecimento da América nas décadas seguintes, com seus psicopatas, justiceiros, skinheads e serial killers, tornou o ainda mais atual.
Toda essa história urbana recente está condensada na trajetória de Travis Bickle (Robert de Niro), ex combatente no Vietnã que ocupa suas noites de insônia dirigindo um táxi pelas ruas mais sujas e perigosas de Nova York. Pelos olhos de Travis, a cidade é uma espécie de Sodoma moderna, habitada pela pior escória da humanidade. Há de vir uma chuva de verdade para lavar toda essa sujeira- diz ele.
O tom de profecia bíblica da frase condiz com a atmosfera geral do filme. Desde as primeiras imagens - um táxi emergindo das trevas um avesso anjo exterminador.
Como em quase todos os filmes do católico Scorsese- principalmente os escritos pelo protestante Paul Schrader como este- Táxi Driver conta a história de um homem que desce aos infernos e alcança depois a redenção.
No filme Travis não deixa de ser um atordoado e embrutecido por uma sociedade doente. Nada tem a ver com a truculência dos justiceiros a Charles Bronson.
Do mesmo modo a linguagem do filme mantém o equilíbrio entre estilização e naturalismo quase documental entre a concentração dramática e a dispersão em vários temas:
O da assessora política (Cybill Sheperd) por quem Trevis se apaixona, o da prostituta (Jodie Foster) que ele quer salvar, o do candidato a presidente etc.
A tensão cresce a medida que as via de fuga ao desespero de Travis vão se fechando uma a uma: o amor ( a assessora rejeita), a amizade (os colegas não compreendem sua angústia), a política ( o candidato só quer usa lo).
Quanto ao virtuosismo do diretor, note se que, nas cenas de rua, a câmera está em todos os pontos possíveis do táxi, do retrovisor ao Pará choque, dependendo da necessidade narrativa.
O mundo é visto em movimento contínuo dessa jaula ambulante.
Há uma cena de absoluta adequação da imagem aquilo que se quer expressar. Em sua perturbação crescente, Travis está a ponto de saltar a fronteira entre o cotidiano e a fúria homicida. Esse limiar é Expresso de maneira simples e poderosa: ele assiste a um melodrama rotineiro na TV, com a cadeira inclinada, com o pé toca no aparelho e balança até que a TV cai e espatifa.
Este filme admirável marca ainda estréia de Jodie Foster e a despedida do compositor Bernard Hermann (1911- 75), que fez a trilha mas não viu o filme pronto. Só o ex colaborador de Welles e Hitchcock poderia compor uma música que passa da melancolia ao suspense com a mesma fluência que o cinema de Scorsese.
"De Niro vai ao inferno em Táxi Driver" 30/6/94

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