segunda-feira, 5 de outubro de 2015

VIDA e OBRA - Lima Barreto



Afonso henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 13 de Maio de 1881. Frequentou a escola publica, passando depois para o ginásio nacional. Completou os preparativos para o curso superior no colégio Paula Freitas e ingressou na escola Politécnica do Rio de Janeiro, que teve de abandonar, para incubir se dos cuidados do pai, que enlouquecera.

Passa a trabalhar na Secretária de Guerra, para sustentar a família. Isso não impede que ele frequente a boêmia e os meios intelectuais cariocas. Militou também na imprensa anarquista. Em 1914 foi internado em hospício, e mais uma vez em 1919, quando já aposentado por invalidez faleceu aos quarenta e um anos de idade em 1 de Novembro de 1922, vitima de ataque cardíaco.

Lima Barreto é o romancista mais importante do período conhecido como pré modernismo. Parte dos defeitos, que apontaram em sua obra decorrem do estilo que caracterizou, a obra de tantos escritores brasileiros do fim do século XIX e início do XX.

A sua escrita é antiparnasiana, numa época em que Olavo Bilac dominava a poesia brasileira e Coelho Neto, da prosa, era o romancista mais prestigiado.

Lima Barreto elaborou uma sátira incisiva de seu tempo. Modelou no romance alguns de nossos maiores problemas, como a questão da indiferença. A rigor não foi nem um ressentimento, nem um populista, como costuma ser pintado hoje. Foi um intelectual que conseguiu trazer para a literatura a voz reprimida das camadas pobres da população. Foi, um dos escritores que mais exerceram entre nós a crítica intensa e corajosa.

Em sua obra destacam três romances: Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915) e Vida e Morte de M.J  Gonzaga de Sá (1919).

O romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, saiu inicialmente em folhetins do Jornal do Comércio entre Agosto e Outubro de 1911. E cinco anos depois, foi publicado em forma de livro.

A obra focaliza fatos históricos e políticos ocorridos durante a fase de instalação da República, mais precisamente no governo de Floriano Peixoto (1891- 1894).

Podemos compreender o enredo como o desenvolvimento de três grandes núcleos: o retrato da personagem, a situação da agricultura e o levante da Armada. A personagem nos é apresentada através de dois planos: uma síntese de hábitos e uma estranha inclinação de caráter. Policarpo é funcionário do arsenal de guerra, suas relações de trabalho incluem principalmente o meio militar.

"É raro encontrar homens assim, mas o há, e quando se os encontra, mesmo tocados de um grão de loucura, a gente sente mais simpatia pela nossa espécie, mais esperança na felicidade da raça (Cap. IV).

Palavras como estas mostram o quanto a literatura de Lima Barreto era estimulada por uma utopia da racionalidade social.

Quais as sugestões que Lima Barreto reuniu em Policarpo?

Em primeiro lugar, nele estão alguns ecos de Dostoiévski e Machado de Assis, autores que souberam tratar muito bem do dificil limite entre a singularidade e aquilo que a sociedade aponta como extravagancia e desequilibrio mental.

Em segundo, está presente em Policarpo a velha tradição nacionalista, que vinha tanto da crítica quanto do romance e da poesia do Romantismo e que se enraizava sobretudo no orgulho, de uma terra incomensurável, promissora, orgulho este que originou aos tons ornamentais do romance de josé de Alencar e da poesia de Gonçalves Dias.

O pragmatismo de Policarpo procurou pôr em prática tudo em que ele acreditava, mesmo que o esforço lhe trouxesse prejuízos, zombarias e incompreensão alheia.

Afinal, não só aprendeu a língua dos índios, mas aprendeu a tocar violão e a cantar modinhas remotas, como aprendeu a plantar, alistou se na luta contra os golpistas da marinha, fez enfim, tudo que pode. Esteve internado, preso e morreu por suas romanticas convicções. Mas no fundo desse pragmatismo ingenuo, também havia uma séria critica a indolencia da Civilização nacional, feita a base de tradição agrária e monocultora, exportadora de matérias primas e importadoras de bem.

Lima Barreto mostra que a idéia de um Brasil autônomo e consciente é desconfortável. Como se o patriotismo fosse de fato, bonito, mas na condição de não ser levado a sério.

O nacionalismo de fachada foi um mito tão forte que conseguiu estender se pelo século XX adentro. O escritou levava a sério o mito nacionalista. Ele se põe de corpo e alma a experimentar, a tentar dar o primeiro exemplo. Provoca incomodo, era perturbador, porém inofensivo. Entretanto quis a sorte que esse "visionário" - como o chamara Floriano - se pusesse um dia contra o projeto das elites e criasse embaraços para elas, no momentoso caso da matança dos prisioneiros de guerra. Aí sim este precisou ser levado a sério.

A obra de Lima Barreto pode ser valorizada dentro daquela perspectiva que Marcel Camus apontou certa vez como a grande missão da literatura. Disse então Camus que "a arte é a expressão da mais alta revolta". E Lima Barreto não só foi um revoltado, mas teve todas as razões para se lo.

Há uma escrita ligeira e algo jornalístico, que se percebe no imediatismo da Sintaxe, na pressa em caracterizar tudo.

Outro ponto de relevo está na bela combinação da paisagem cultural com a solução trágica. O Triste Fim de Policarpo Quaresma não é apenas um romance de época, também não se limita aqueles traços que o classificam como o personagem plana ( os hábitos, a idéia fixa, as reações padronizadas).

De certa forma, vai demonstrando uma discreta, mas gradual consciencia de que fora um inocente útil, e as horas que precedem seu fim demonstram claramente essa mudança.

Quanto ao conjunto dos personagens, podemos dividi los num grupo dos "incorformados" como o próprio Policarpo e o grupo dos que se voltam apenas para seus interesses particular. Albernaz, o general que ansiava casar as filhas, Caldas, comandante sem esquadra, Genelício, bajulador e o próprio Floriano que, apesar de ídolo político, dependia das hipotecas que pesavam sobre duas de suas propriedades.

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